Conservação / Reabilitação de Casas Gandaresas – Boas Práticas:

Medidas de Prevenção:

As medidas de prevenção referem-se a medidas que podem ser adotadas antes do aparecimento de anomalias na construção. Estas medidas incluem trabalhos de manutenção corrente, que devem ser realizados anualmente uma vez que requerem poucos recursos, ao nível de mão de obra e equipamentos, mas pode ter um impacto significativo no custo associado à conservação destas construções.

Limpeza da Construção e da sua Envolvente

Inclui a limpeza do material degradado, vegetação, colonização biológica, e outras matérias indesejadas nas construções e na sua envolvente (e.g. silvas), através de métodos adequados. Um dos métodos mais usuais consiste na aplicação de soluções aquosas por meio de nebulização, seguida de escovagem. Os métodos de limpeza abrasiva devem ser evitados, bem como de jatos de água a alta pressão, porque podem causar danos significativos na alvenaria. Devem ainda ser objeto de limpeza os telhados, as caleiras e todo o sistema de drenagem de águas pluviais e os passeios. A desobstrução das caleiras e do sistema de drenagem é particularmente relevante devido às implicações graves decorrentes da infiltração de água na construção, quer pela cobertura quer pela base da construção. Esta limpeza deverá ser efetuada em setembro/outubro, antes da época das chuvas. Não esquecer de verificar as caixas de águas pluviais, eventualmente existentes dentro da construção e as valas que ficam em frente à construção no arruamento. A limpeza da drenagem de águas pluviais deve começar nas caleiras e terminar na caixa de ligação existente no arruamento público, assegurando que a cota de fundo da caixa está abaixo das caixas de visita da construção. Devem também ser limpas as sarjetas na zona da construção. Para além disso devem ser desobstruídos os furos da drenagem da água das soleiras e verificados os betumes e os canais de escoamento das humidades de condensações das janelas para evitar infiltrações através das caixilharias. As janelas ou orifícios de ventilação da base do edifício devem estar desobstruídas, podendo colocar-se rede para impedir o despejo de lixo para baixo da construção ou a entrada de pequenos animais. Garantindo que estas janelas de ventilação do desvão sanitário não ficam de nível ou abaixo da cota de pavimento do arruamento.

 

Referências Bibliográficas:

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Aplicação de Sistemas de Proteção

Inclui a aplicação de tratamentos e revestimentos de proteção na alvenaria e nas madeiras, assim como em eventuais sistemas de reforço (metálicos) presentes na construção. O objetivo da aplicação dos sistemas de proteção é diminuir a velocidade de deterioração e evitar o aparecimento de novos danos nos elementos referidos. O sistema de proteção mais usual na alvenaria é a aplicação de soluções à base de materiais compatíveis com os existentes como a cal, as conhecidas caiações. Nas madeiras deverá ser aplicado o Xylophene, por exemplo, o Xylophene S.O.R. 40 Profissional que é um poderoso inseticida fungicida e termiticida, destinado ao tratamento curativo e preventivo, por aspersão pincelagem ou injeção de todas as madeiras atacadas, tanto no exterior como no interior. Pode ainda aplicar-se um outro produto, certificado, do tipo XILIX 3000P ou com características idênticas (sem cheiro), não descurando as partes encastradas, os encaixes e os apoios. Esta aplicação deverá ser efetuada em fevereiro e setembro de cada ano para a região em causa, com um mínimo de duas demãos separadas entre si 15 minutos e em todas as faces acessíveis. Devem ser seguidas as recomendações do fabricante quer para a preparação prévia das superfícies, nomeadamente a remoção das partes deterioradas, quer para a aplicação do produto e condições ambientais de aplicação.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Medidas de Reparação:

As medidas de reparação são intervenções com o objetivo de restabelecer a integridade, repondo as condições iniciais da construção. Estas medidas requerem meios adequados e mão de obra especializada, sendo apenas realizadas quando considerado necessário, no seguimento de uma inspeção à construção que deverá ser efetuada pelo menos de 5 em 5 anos. Pode numa primeira fase ser efetuada pelo proprietário e caso seja necessário deverá ser chamado um especialista para resolver as situações especiais. Os trabalhos aqui incluídos envolvem reparações pontuais comuns, que em geral não requerem a elaboração de um projeto de execução específico para uma determinada obra, e intervenções mais abrangentes, que podem exigir projetos de execução com elevada especificidade.

Cobertura

Um dos elementos essenciais de uma construção é a cobertura e por isso é preciso verificar, antes do período das chuvas se existem telhas partidas, fora do sítio, etc. Caso não exista na cobertura barreira pára-vapor que tenha funções impermeabilizantes, impedir a entrada da água (caso se verifique alguma telha partida ou fora do sítio), esta deverá ser colocada, como por exemplo a barreira pára vapor do tipo Ondutiss barrier reflex, ou equivalente. Deve-se assegurar que na zona da parte de cima da parede das fachadas a impermeabilização é devidamente assegurada através de uma tela, que deverá ser colocada por debaixo da que realiza o telhado, assegurando-se a saída da água para o exterior. Deverão ser verificadas se as ligações das varas, madres e linhas das asnas às paredes apresentam algum sinal de podridão e, caso este se verifique, deverá essa entrega ser imediatamente tratada. Em primeiro lugar deve verificar-se se a causa que deu origem a essa degradação está eliminada, normalmente entrada de água e, em seguida, deixar secar bem a madeira e depois aplicar um tratamento curativo e preventivo, por exemplo aplicando o Xylophene S.O.R. 40 Profissional já referido anteriormente. Caso a extremidade da peça esteja muito degradada, deve-se cortar a peça até à zona sã e depois realizar um empalme.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Paredes

Caso as paredes apresentem degradação expressa através de fendilhações, fraturas, movimentos de blocos, etc., deve-se procurar colmatar essa degradação através da reparação da abertura das fendas ou movimentos verificados, com o objetivo de restabelecer as características mecânicas da alvenaria, que podem ser realizadas através de: (i) substituição da argamassa degradada das juntas ou (ii) colocação de argamassa nova onde esta já não existe e injeção de argamassas à base de cal aérea. Esta reparação é recorrente nas intervenções gerais de reabilitação das paredes das construções de alvenaria, pois é importante na prevenção da infiltração de água no interior das paredes e da construção. Esta intervenção é relativamente simples e pouco dispendiosa, no entanto, requer alguns cuidados quanto ao tipo de argamassa a aplicar. Existem vários tipos de argamassa no mercado que poderão ser utilizados. O princípio é NUNCA usar argamassas cimentícias, sendo o ideal, argamassas à base de cal aérea. No mercado da construção civil pode-se ter acessos a produtos do tipo FRADICAL ou equivalente, que produzem argamassas à base de cal aérea, podendo também encontrar-se argamassas à base de cal hidráulica natural (NHL2 ou NHL3.5 consoante os casos), que devem apresentar baixa resistência mecânica, sendo fundamental que seja garantida a compatibilidade mecânica, química e estética com o material existente. As argamassas à base de cimento não são aceitáveis devido à sua incompatibilidade com o adobe e com o material pétreo, pelo que, a sua eventual presença requer a sua substituição imediata por argamassa compatível com o material existente. É ainda necessário avaliar a eficácia do sistema de drenagem de águas pluviais, que é uma das principais causas da degradação de argamassas e rebocos, devido ao deficiente encaminhamento da água na construção.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Pisos

Nos pisos é importante verificar a entrega das vigas nas paredes para verificar o seu estado de conservação e, como se referiu para as coberturas, caso a viga apresente alguma degradação deve-se proceder ao seu tratamento. Caso o soalho e as vigas de madeira apresentem sinais de ataques bióticos estes elementos deverão ser devidamente tratados com um tratamento curativo e preventivo, por exemplo aplicando o Xylophene S.O.R. 40 Profissional ou o XILIX 3000P já referido anteriormente. Nos pisos do rés-do-chão, que tradicionalmente são realizados em madeira, deverão ser mantidos e garantidos os meios de ventilação, que normalmente existem neste tipo de construções de alvenaria. São fundamentais para ventilar o piso em madeira e evitar assim a sua degradação. Nestes casos tem-se assistido a dois tipos de práticas que não são recomendáveis: a primeira é o tapamento das aberturas de ventilação da base das paredes de fachadas para evitar a entrada de animais e outro tipo de visitantes que se verifica em várias situações, outra recorrente, já foi referida anteriormente, é a subida da cota da rua ou do passeio, o que acaba por tapar as janelas de ventilação; a segunda, é o facto de substituírem o pavimento em madeira por um pavimento térreo de cimento, revestido com material cerâmico. Esta situação agrava os problemas de condensações na base da parede e passado algum tempo aparece a popularmente conhecida “salitre”, que são eflorescências ou criptoeflorescências que surgem na base da parede, dando origem à degradação da pintura, do reboco e por vezes dos próprios adobes (Tavares et al., 2019). A finalidade do espaço de ventilação, nestes casos, serve para ventilar a base das paredes, evitando dessa forma um agravamento da ascensão capilar da humidade. Estas duas situações (tapamento das janelas de ventilação e cimentar o piso térreo) devem ser evitadas na execução de obras de reparação ou reabilitação.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Revestimentos

Os revestimentos neste tipo de construções são realizados com material idêntico e compatível com a base de suporte. No caso da alvenaria de adobe com uma argamassa em tudo idêntica à composição dos materiais (areia, cal e água), curva granulométrica, com que se realizaram os adobes, garantindo que nenhum dos materiais esteja contaminado e tenha sido armazenado em condições adequadas e não à chuva. A tinta deverá ser uma tinta à base de cal, a denominada caiação, ou ainda tintas de base aquosa compatíveis com alvenarias de adobe. No caso de se usar tintas industriais estas devem ser à base de silicatos e que permitam a parede “respirar”. Toda e qualquer operação de reparação deverá ser efetuada usando sempre materiais semelhantes e compatíveis com os existentes. O uso de argamassas cimentícias deve ser proibida neste tipo de construções.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Caixilharias

Neste tipo de construções as caixilharias são realizadas em madeira, muitas vezes de madeira nacional de boa qualidade ou de madeira exótica, e possuem portadas também de madeira pelo interior. O peitoril é normalmente realizado em madeira ou pedra calcária. O vidro é simples, de espessura reduzida 2 a 4 mm. Este tipo de caixilharia exige manutenção e por isso é necessário verificar regularmente o seu estado e funcionamento e efetuar reparações pontuais para assegurar a durabilidade das mesmas, bem como a limpeza dos orifícios de saída de humidade. Deve-se evitar a substituição destas caixilharias por outras de outro tipo de material, essa substituição representa uma perda de valor patrimonial, que em muitas situações não é admissível.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Sistemas de Drenagem de Águas Pluviais

A construção deve ser dotada de condições de drenagem de águas pluviais adequadas, capazes de impedir ou diminuir os escorrimentos e infiltração de água na construção. Este procedimento pode incluir a alteração do sistema de drenagem de águas pluviais existente, obrigar à realização de novas caixas de visita e à alteração/verificação da inclinação da tubagem. É importante afastar a água da construção e procurar evitar a passagem pelo interior da construção da tubagem de águas pluviais. Tanto quanto possível deve implementar-se uma drenagem periférica que acompanhe o perímetro do edifício e receba as águas pluviais, uma vez que na maior parte dos casos, as Casas Gandaresas não têm caleiras e a água escorre diretamente dos beirais para os pisos circundantes. Os sistemas de drenagem devem ser adequados à precipitação média da região, de forma a permitir um escoamento com o mínimo impacto possível nas cargas atuantes e função da construção. Estes sistemas devem ser projetados de forma a ser possível proceder à sua desobstrução e limpeza regular, durante as operações de manutenção, que deverão ser realizadas pelo menos no mês de setembro de cada ano.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Medidas de reabilitação (reforço):

As medidas de reabilitação/reforço referem-se à introdução de melhoramentos no comportamento da construção através do reforço dos elementos existentes, ou da melhoria das suas ligações ou da introdução de novos elementos na construção original, de forma a fazer face à deterioração apresentada ou a alterações do seu serviço (e.g. mudança de funções). Estas medidas devem ser adotadas em função do comportamento estrutural da construção e das anomalias existentes, considerando as possíveis causas. Outra situação que deve ser ponderada na seleção destas medidas é o valor patrimonial e histórico da construção, pelo que, sempre que possível, devem ser escolhidos métodos e soluções que não descaracterizem esses valores, a autenticidade do edifício, mantendo a sua integridade física e funcional.

Medidas de Reforço Estrutural - Fundações

A situação mais grave, no que se refere às fundações, em construções de alvenaria são os assentamentos que resultam de uma insuficiente capacidade de suporte do solo, embora nas Casas Gandaresas se esteja sempre a falar em tensões baixas transmitidas ao solo. As causas mais frequentes desta anomalia incluem o descalçamento e erosão das fundações e problemas de infraescavação causada pelas águas. Para resolver os problemas de perda de resistência do terreno de fundação, existem várias técnicas de consolidação dos solos. No entanto, antes da aplicação destas técnicas, devem-se realizar estudos geotécnicos para aferir ou confirmar as causas na origem das anomalias. Este fator é essencial para uma boa eficácia da intervenção. O recalçamento das fundações consiste na escavação do terreno de fundação e na sua substituição por um material mais resistente.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Coberturas

Neste tipo de construções as coberturas podem ser realizadas como estruturas independentes das paredes, ou seja, pode-se considerar que a cobertura pousa em cima das paredes. Neste caso é fundamental assegurar que a cobertura é autoequilibrada, ou seja, pode-se pegar nela e colocá-la em cima das paredes ou noutro local qualquer e a cobertura mantém a sua forma inalterada. Neste tipo de construções, como já foi referido, as coberturas podem ser de estrutura em vara, madre ou asna. A asna representa a cobertura mais cara e mais estável, uma vez que a carga é transmitida às paredes através das linhas, pontualmente e normalmente em pontos separados entre si de 4 a 5 metros. No caso da cobertura em asna: as telhas apoiam em ripas, estas apoiam em varas, que apoiam em madres e estas apoiam em asnas devidamente espaçadas e que transmitem as cargas através das linhas às paredes. Portanto, desde que a cobertura seja bem dimensionada, ela funciona e muitas destas coberturas já existem há centenas de anos nas construções. Este tipo de cobertura pode apresentar vários tipos de asnas, que normalmente são idealizadas em função do vão e do aproveitamento que se quer fazer do desvão do telhado. Ora este possível aproveitamento dá origem a que a asna tradicional e bem dimensionada seja substituída por asnas não completas. São asnas que não têm escoras, e noutros casos têm umas escoras que dão apoio à perna, na zona de apoio da madre e descarregam diretamente na parede. Este tipo de asnas que é muito comum na Região Centro de Portugal e em casas de adobe, vencem vãos grandes, em torno dos 10-11 metros, apresentando normalmente um meio pendural e em alguns casos uma linha superior. Este tipo de asnas requer alguma análise ao seu comportamento e em muitas situações intervenções de reforço, nomeadamente a da esquerda, que não tem escoras e tem as pernas sujeitas à compressão, não travadas e sem apoio, para além de terem os rincões também demasiado compridos e sem apoios. Nesta situação é comum colocar-se apoios aos rincões, que podem ser realizados com diagonais nos cantos, ou escoras ao alto. Quando a asna é a tradicional, a solução é boa e funciona bem. Outra solução estrutural usada nas coberturas de construções de alvenaria é a solução em madre, em que neste caso a estrutura que transmite os esforços à parede é a madre. Este tipo de cobertura é mais simples que a anterior, uma vez que corresponde a uma solução em que as telhas apoiam em ripas, as ripas apoiam nas varas e estas apoiam nas madres, que descarregam nas paredes. Portanto em relação à anterior corresponde à eliminação das asnas na solução. A solução mais habitual, por ser a mais económica, é a solução em vara, em que neste caso, a telha apoia em ripas e estas apoiam em varas e estas apoiam num frechal que transmite as cargas às paredes. Neste tipo de cobertura é fundamental que o frechal esteja em boas condições, porque representa o elemento estabilizador da cobertura. Neste caso, as varas descarregam no frechal uma ação inclinada, segundo a direção da vara e esta ação é decomposta numa ação vertical, que é transmitida à parede (importante que o frechal seja colocado o mais possível a meio da parede para evitar excentricidades) e a componente horizontal faz fletir o frechal para fora do plano das paredes (daí a importância de o frechal ser colocado ao baixo, ou seja, se o frechal tiver 20x10 cm2, a dimensão de 20 cm deve estar colocada em cima da parede, sendo os 10 cm a altura da peça). Estando o frechal sujeito a esta ação, pontual, aplicada a cada 55cm (sensivelmente, uma vez que é a distância normal entre varas) é fundamental que este tenha apoios, daí a importância de existirem tirantes a ligar os frechais existentes em paredes opostas para anular as componentes horizontais entre si. Os frechais devem ser contínuos e quando se desenvolverem em paredes ortogonais entre si, devem ser bem ligados. Outra situação que por vezes se verifica é a deformação acentuada da cumeeira ou das madres devido à falta de secção das peças para o vão a vencer. Nestas situações é habitual colocarem-se escoras para apoio às vigas para reduzir o vão.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Pisos

É habitual, principalmente em regiões sísmicas, a colocação de tirantes ao nível dos pisos, que podem ser realizados através da ligação dos pisos às paredes, aproveitando as vigas de madeira, do piso, para esse efeito, e realizando as ligações através de elementos metálicos, ou aproveitar os tirantes metálicos antigos que existem em muitas destas construções. Portanto a introdução de tirantes, que devem ser colocados nas duas direções da casa, para ligar todas as paredes aos pisos, corresponde a um reforço da construção para as ações horizontais. No caso de se utilizar tirantes metálicos estes são introduzidos no meio do pavimento de madeira, por debaixo do soalho. As principais vantagens associadas a este método referem-se ao custo relativamente baixo e ao facto de, neste momento, ser de fácil aplicação.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Medidas de Durabilidade

No que respeita a medidas de durabilidade pode-se referir a colocação de telhões de canudo com 90 cm de extensão para melhorar a proteção das paredes; a colocação de elementos ao nível do beiral para permitir a entrada de ar para ventilar estes espaços com madeiras e sem uso, garantindo-se que a cumeeira seja igualmente ventilada. A ventilação natural permanente e contínua neste espaço tem como objetivo melhorar as condições higrotérmicas do sótão para manter as madeiras secas e diminuir as condições propícias a eventual reinfestação dos agentes xilófagos. Nestas situações o isolamento térmico deve ser colocado na esteira. Deve também ser prevista a colocação de um passadiço central de madeira para facilitar a inspeção periódica da cobertura, bem como a colocação de linha de vida nos casos de partes do edifício mais altas, devem ser equacionadas.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Sugestões de aplicação de técnicas modernas e compatíveis para a melhoria do comportamento global das construções existentes:

Coberturas

Nestes casos coloca-se uma solução de melhoramento do comportamento global da construção, ou seja, realizar ligações entre todos os elementos que constituem a construção para que esta tenha um comportamento em “caixa”, ou seja, tudo devidamente ligado para promover a ligação das paredes aos pisos e às coberturas. Neste caso, como estamos a falar em coberturas o que se pretende é ligar as linhas às paredes para que as linhas passem a funcionar como tirantes que ligam as paredes opostas entre si. Nestas situações pode- se também melhorar as ligações entre as pernas e a linha e melhorar o efeito de tirante através da colocação de um elemento metálico, Figura 4.1. Este melhoramento advém da altura das asnas, o que origina uma inclinação elevada das pernas e por isso opta-se por colocar tirantes ao longo das linhas com amarração quer à união perna/linha como também à parede de fachada, sendo amarrado no exterior, através de elementos metálicos à vista. Pretende-se com esta ação minimizar eventuais impulsos para fora do plano da estrutura de madeira para as paredes e restringir a deformação das mesmas. Por outro lado, tem como objetivo melhorar a ligação entre paredes e estrutura de cobertura (Tavares, A. et al, 2020).

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Pisos

Para o funcionamento em “caixa” da construção ser efetivo deve-se também colocar tirantes ao nível dos pisos, que podem ser realizados através da ligação dos pisos às paredes, aproveitando as vigas de madeira, do piso, para esse efeito, e realizando as ligações através de elementos metálicos, ou aproveitar os tirantes metálicos antigos que existem em muitas destas construções. Portanto a introdução de tirantes, que devem ser colocados nas duas direções da casa, para ligar todas as paredes aos pisos, corresponde a um reforço da construção para as ações horizontais. No caso de se utilizar tirantes metálicos estes são introduzidos no meio do pavimento de madeira, por debaixo do soalho. O procedimento deste método envolve a introdução criteriosa de vergalhões, normalmente varões com diâmetros superiores a diâmetros de 25mm, por vezes, roscados nas suas extremidades ou em toda a sua extensão, tipo Dywidag ou equivalente, em furos previamente executados na alvenaria. Após a introdução dos tirantes, os furos podem (ou não) ser preenchidos com calda de argamassa de baixa retração, finalizando com o ajuste por corte do comprimento dos varões e posterior aperto na chapa de ancoragem. Podem também ser colocadas pedras ou cilindros de adobe de capeamento para selagem dos furos, proteção contra o ambiente de exposição e minoração da dissonância visual causada. As principais vantagens associadas a este método referem-se ao custo relativamente baixo e ao facto de, neste momento, ser de fácil aplicação.

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Paredes

Quando as paredes de alvenaria apresentam problemas de comportamento para fora do plano utiliza-se uma solução de reforço que consiste em ligar as paredes entre si, ao longo da altura, através de pregagens. Esta técnica é frequentemente utilizada em conjunto com o atirantamento, referido anteriormente, tendo por objetivo estabilizar a geometria e aumentar a sua resistência às ações sísmicas. O procedimento deste método consiste na colocação de varões metálicos no interior de um furo, previamente executado na alvenaria, e na posterior selagem com uma calda que fica dentro de uma manga para ficar contida.A utilização de pregagens, no caso das construções em adobe, é normalmente realizada com varões de aço inox, de diâmetro mais reduzido, entre Ø12 e Ø16 mm, em que se procura que o furo seja realizado inclinado, para ser mais fácil fazer a injeção da calda não cimentícia, sendo o comprimento do varão o suficiente para ligar bem as paredes entre si.

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Medidas de Melhoria para o Conforto Térmico

As Casas Gandaresas são sobretudo construções de adobe em Vagos e Mira e apresentando em Cantanhede um embasamento ou a totalidade do rés-do-chão em alvenaria ordinária de pedra calcária. A construção de adobe é reconhecida nacional e internacionalmente como tendo uma boa inércia térmica e um bom desempenho acústico. No entanto, apesar do comportamento no período do verão ser excelente e este tipo de edifícios, na sua configuração original, não precisar de meios para o arrefecimento, no inverno, tal como todos os outros edifícios precisam de meios para o aquecimento. Tradicionalmente, esse aquecimento era realizado através de lareiras e dos ganhos solares pelas janelas. As propostas que se apresentam neste capítulo servem sobretudo para orientar nessa conciliação entre melhorias ambientais e a preservação de valores e não é por isso apenas uma aplicação taxativa das leis. Por outro lado, não prescinde na aplicação prática da devida ponderação técnica, por um técnico competente, para o caso específico de reabilitação, fazendo tanto quanto possível o contraponto entre as conclusões da avaliação do existente com monitorizações reais. A regulamentação térmica transpõe a legislação comunitária sem atender à realidade económica cultural e de hábitos de utilização dos Portugueses, pois baseia-se no pressuposto que os Portugueses aquecem as suas casas em modo permanente, o que não é verdade, para além disso não permite estudos de sensibilidade realistas. Neste sentido, cabe ao técnico, de forma competente, estudar o edifício como um todo e avaliar o contributo efetivo de cada componente construtivo ou eventual alteração proposta, para o conforto da habitação, colocando na mesma balança de ponderação o risco de perda de valores patrimoniais e custos futuros. O grande risco do atual modelo previsto na legislação é não responder às reais necessidades dos utilizadores dos edifícios reabilitados, nomeadamente considerando a durabilidade das soluções e as necessidades futuras de reparação. O aproveitamento do desempenho passivo dos edifícios deve assim ser maximizado, aproveitando os benefícios da inércia térmica das paredes de adobe, os ganhos solares de inverno e complementando com as formas de utilização e tanto quanto possível com ventilação natural, considerando-se vantajosa a ventilação mecânica para as instalações sanitárias. A reabilitação de edifícios existentes exige uma abordagem que deve passar pela caracterização construtiva, exaustiva do edifício e por um diagnóstico que conduza à proposta de soluções com investimento otimizado e um desempenho quantificado adequado, assegurando as condições de conforto térmico e sustentabilidade ambiental e a minimização de produção de CO2. O isolamento térmico é vantajoso no inverno, mas pode aumentar o desconforto no verão. No inverno devem ser considerados os ganhos solares em complemento a estratégias de conservação de energia, nomeadamente através da introdução do isolamento térmico.

Outras medidas apontadas como adequadas para se atingir o conforto, recorrem a equipamentos diversificados, mas que mais uma vez devem ser devidamente avaliados pelos técnicos, no sentido de se verificar que realmente existe um retorno do investimento em tempo útil de uso pelo utilizador, que é um contributo que não colide com a durabilidade dos materiais presentes no edifício, nem oneram a montante os custos de utilização. A legislação aplicável, continua com problemas ao nível da compatibilização entre as características dos edifícios antigos, nomeadamente das Casas Gandaresas e apesar do REH (Decreto lei nº118/2013) remeter para aplicações diferenciadas entre construção nova e reabilitação, a adequabilidade e ponderação recai sobre os técnicos e a sua competência para avaliar a pré-existência e definir boas práticas de preservação, na atual legislação do Dec. Lei nº 95 /2019 e Portarias nº 197/2019 de 9 de setembro e Portaria nº 303/2019 de 12 de setembro. Mais uma vez é crucial escolher um técnico competente e com experiência em edifícios de adobe, para a intervenção em Casas Gandaresas. Este poderá avaliar melhor e usar a flexibilização introduzida pela última legislação, podendo fundamentar uma baixa intrusividade nas excepcionalidades de ordem técnica, funcional, patrimonial, etc, a aplicação de uma abordagem flexibilizada, sempre que se justifique. O isolamento térmico aplicado nas paredes, quer pelo exterior, quer pelo interior não deve ser usado em edifícios de adobe, pois colocam em causa a durabilidade da construção e as humidades (condensações) na interface entre parede e isolamento pode contribuir para a desagregação dos adobes, o que com o tempo diminuirá a capacidade resistente da parede. Em paredes de muito elevadas espessuras os cálculos em regime permanente não traduzem o seu comportamento pelo que o coeficiente de transmissão térmica U tem relevância relativa. A inércia é nesse caso fundamental no desempenho da parede. Para os vãos virados a sul deve considerar-se formas de sombreamento, podendo inclusivamente se possível recorrer a arbustos ou árvores. A ventilação é um aspeto importante a ponderar, natural e mista. Tanto quanto possível, esta deve ser permanente, abrangendo todos os compartimentos e privilegiando a entrada de ar pelos quartos e salas e saída pela cozinha (valor mínimo de caudal 60m3/h) e quarto de banho. De referir ainda que, a ventilação do desvão sanitário é crucial para a boa conservação das paredes e estrutura de pavimento do rés-do-chão, pelo que a introdução de isolamento térmico por baixo do pavimento deve ser equacionada.

O clima e microclima local, a dimensão do edifício e a sua configuração, orientação solar, forma de aquecimento (contínuo ou por períodos do dia/noite), as características do sistema construtivo (incluindo com as eventuais alterações), o estado de conservação são aspetos a integrar na inspeção e diagnóstico, tanto quanto possível com medição do comportamento higrotérmico do edifício e assim estabelecerem-se medidas de intervenção com critério e equilíbrio. Resta assim recordar que a adoção de soluções de intervenção deve ter em conta, simultaneamente e, para além do objetivo das melhorias do conforto: - solução com a menor produção de resíduos possível; - reduzida intrusividade na Arquitetura (mesmo considerando que se trata de Arquitetura vernacular); - maior garantia de durabilidade; - maior otimização do desempenho passivo do edifício; - menor impacto do ponto de vista estrutural; - redução da dependência de equipamentos; - redução de custos de manutenção onerosos. Relembrando o já preconizado nos princípios do Dec. Lei nº 95/2019 os processos de reabilitação devem “conciliar a melhoria das condições de habitabilidade com uma resposta responsável e proporcionada em termos de respeito pela pré-existência e pela sustentabilidade ambiental”. A intervenção ao nível das coberturas com a integração de isolamento térmico deve ser priorizada em relação às demais, já que uma perda significativa de calor se dá por aí.

Outro modo de introduzir melhorias de conforto térmico é ao nível do pavimento térreo, levantando o soalho existente, aplicando sobre as vigas de madeira um suporte rígido (placas OSB, por exemplo) e sobre este aplicar o isolamento térmico e finalmente sobre este o ripado para a fixação do soalho, caso este não venha incorporado no isolamento térmico. Pode ainda ponderar-se por questões de não alteração de altimetrias, a colocação do isolamento térmico entre vigas. Seguindo-se a ponderação sobre a ventilação e a intervenção ao nível dos pavimentos onde se pode levantar o soalho existente (se for possível) para a aplicação de isolamento térmico entre um novo suporte rígido sobre as vigas o soalho a repor.

A substituição de caixilharias deve ser ao máximo evitada pela descaracterização que impõe ao edifício, devendo optar-se por outras alternativas como a eventual adição de um novo caixilho, portada, cortinas mais espessas, telas black-out, etc. Tendo sempre presente que uma construção de adobe precisa de ventilação dadas as características materiais da mesma, pelo que qualquer adição ou alteração ao nível dos caixilhos deve prever a ventilação.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Conforto Acústico

A maioria das Casas Gandaresas localiza-se em áreas rurais ou urbanas de baixa densidade. Não sendo por isso o ruído um problema grave a resolver. No entanto, apontam-se algumas preocupações a ter em conta para a melhoria da qualidade acústica, não invalidando a avaliação in situ necessária e o trabalho a desenvolver por técnico especializado. Para as Casas Gandaresas, dado terem valor cultural e patrimonial, recomenda-se uma linha minimalista de intervenção, em articulação com o previsto no nº1 a 7 do Artigo 5º do Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios, Decreto Lei nº95/2019 de 18 de julho e a Portaria nº 305/2019 de 12 de setembro. Considera-se por isso que a intervenção de melhoria acústica no cumprimento da Lei não implica a substituição das caixilharias e outros envidraçados existentes. Referindo ainda que, se a reabilitação preserva integralmente a pré-existência, tal facto servirá na fundamentação para que as exigências na alínea a) do Artigo 1º passem a ter uma redução adicional de 2dB. Destaca-se ainda o seguinte no que se refere ao Artigo 2º para a intervenção em edifícios existentes, considerando que tal se aplica às Casas Gandaresas: “Sempre que não seja possível cumprir integralmente as disposições previstas no artigo anterior, é permitida a apresentação fundamentada de solução alternativa que contemple medidas de mitigação e/ou compensação, ou ainda, a fundamentação para a sua não adoção, a apreciar pela entidade licenciadora, atendendo aos princípios da proteção e valorização do existente, da sustentabilidade ambiental e da melhoria proporcional e progressiva, estabelecidas no Decreto- lei nº 95/2019, de 18 de julho e mediante justificação detalhada da impossibilidade de cumprimento.” De todo o modo, o estabelecimento de medidas de reabilitação acústica mais realistas e objetivas necessitam ser apoiadas nos dados do efetivo desempenho do edifício, com recurso a análises e ensaios acústicos (por entidade credenciada) e uma caracterização detalhada do sistema construtivo através de inspeções in situ. A grande dificuldade para análise acústica do edificado existente antigo, onde se inserem as Casas Gandaresas, é o risco de maior imprecisão na determinação dos valores R e Ln (desempenho acústico) dos seus elementos construtivos e do isolamento vibrático das suas junções (dada a sua heterogeneidade), pelo que exige um técnico experiente neste tipo de análises e a sua integração na equipa de projeto em fase inicial do projeto de Reabilitação. A intervenção do ponto de vista de condicionamento acústico deverá considerar como pressuposto fundamental a minimização da relação custo/benefício, cumprindo critérios mínimos de referência que não colidam com a maximização da preservação da pré-existência. A maior atenção será dada ao isolamento da fachada e ao isolamento entre compartimentos interiores. Contudo, as soluções tendo em conta o compromisso prévio de preservação da pré- -existência deverão passar por questões básicas de melhorias, como por exemplo: Fachada – redução sonora através da verificação das caixilharias, melhorando o fecho de frinchas, realizando afinações periódicas de funcionamento, melhorando a insonorização de eventuais caixas de estore (elementos que existem em algumas Casas Gandaresas, mas não são originais e por isso pode ser equacionada a sua retirada) e de grelhas de ventilação. Interior do edifício – introduzir materiais que melhorem o desempenho acústico ao nível de pavimentos e tetos, podendo ser articulados em soluções conjuntas próximas com a intervenção de conforto térmico havendo, no entanto, a preocupação com as ligações desses elementos à estrutura e remates de contorno. Estas medidas são facilmente articuladas com as necessidades de intervenção relativas às melhorias de conforto (desempenho higrotérmico). Não são de considerar soluções que por vezes se observam como substituição de paredes de tabique por paredes de gesso cartonado (pladur) com eventuais características acústicas, dada a perda de valor da Casa Gandaresa. Em casos limite, de elevada exigência, poderá equacionar-se a adição desse elemento não demolindo a parede de tabique. Outra solução errada e a evitar em Casas Gandaresas (edifícios de adobe na generalidade) é o recurso a betonilha flutuante em microbetão e argamassa usando o soalho antigo como cofragem, pois alteram de forma negativa o comportamento higrotérmico global do edifício, aumentando o risco de aparecimento de anomalias com impacto na durabilidade deste.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.

Melhorias Simples do ponto de vista de Segurança contra Incêndios

As melhorias do ponto de vista de segurança contra incêndios devem ser avaliadas por técnico competente partindo do princípio de uma valorização da pré-existência, minimizando a intervenção pela otimização das soluções custo/segurança contra incêndios. Deve-se ter presente que esta minimização criteriosa da intervenção deve ter presente os meios a usar para que a instalação não seja difícil ou colida com a pré-existência. De preferência em articulação com as necessidades de metodologias de intervenção já necessárias para a melhoria térmica ou acústica e assim, a remoção e reposição de elementos serem das mesmas áreas. O Guia FNRE (Guia FNRE, 2020) aborda estas questões, a sua ligação à legislação e a possibilidade de uso do método ARICA 2019 – Método de avaliação da segurança ao incêndio de edifícios existentes do LNEC (relatório LNEC327/2019 – DED/NUT). Podem ser equacionadas medidas de reforço da capacidade resistente de elementos existentes, nomeadamente através da aplicação de elementos de proteção para retardar a passagem de fluxo de calor para a estrutura, permitindo deste modo que esta possa manter as suas funções durante um período de tempo superior.

Dos vários processos possíveis referem-se os seguintes:

  • Promover o aumento da resistência térmica através de colocação por exemplo de lã de rocha (que pode simultaneamente servir de isolamento térmico) ou o uso de pinturas intumescentes. As paredes de adobe já têm em si uma boa resistência ao fogo, pelo que a abertura de novos vãos em paredes de adobe interiores deve ter isto em atenção.
  • Retardar o processo de combustão, sendo este processo conseguido pela aplicação de produtos ignífugos, que alteram o comportamento do material tratado, sem que exista uma alteração das suas características químicas. A ignifugação vai permitir retardar ou suprimir a velocidade de combustão e de propagação. Nas Casas Gandaresas, a aplicação nos tetos e nas portas e sobretudo nas que fazem parte de paredes de adobe pode ser vantajoso.
  • Aplicar produtos intumescentes, já que sob a ação do calor, e para temperaturas inferiores à da combustão dos materiais que estão a proteger, estes produtos transformam-se quimicamente, produzindo gases inertes, não combustíveis, verificando-se uma expansão do revestimento (formação tipo “esponja”), formando uma barreira contra a ação do calor e das chamas.
  • Introduzir extintores na saída da cozinha e no corredor.
  • De referir que os materiais incluídos nas classes europeias A1 e A1nde reação ao fogo sem necessidade de ensaio prévio (Jornal oficial das Comunidades Europeias JOCE) contemplam materiais presentes nas Casas Gandaresas como são: os blocos silico-calcários (adobes), gesso e massa de gesso, cal, argamassas com ligantes inorgânicos (cal e gesso), marmorite e ladrilhos hidráulicos.

 

Referências Bibliográficas (APA):

Tavares, A., & Costa, A. (2021). Manual de boas práticas de conservação de Casas Gandaresas de Vagos, Mira e Cantanhede. P3R, Lda / Entidades promotoras: CMVagos, CMMira, CMCantanhede.